30 agosto, 2013

O fim da guerra dos volumes. (Será?)

Produzir CDs altos e comprimidos está caminhando a passos largos para se tornar apenas uma péssima lembrança da produção de música nos anos 2000. Confira mais este artigo do Carlos Freitas (Classic Master)


Uma velha hitória
O tema é desgastado, a discussão, eterna e inútil, mas algo está mudando e estou com a esperança renovada com o futuro da indústria da música. Não apenas a partir de uma perspectiva de negócios na área musical, mas principalmente a partir da perspectiva da qualidade do áudio. Além das discussões habituais sobre o aspecto artístico e técnico da gravação e produção, tem havido muita discussão sobre o aumento de downloads de arquivos digitais de alta resolução, superando os CDs como formato final de entrega ao consumidor nos próximos anos. O otimismo é crescente à medida que mais e mais engenheiros, artistas e produtores estão enxergando uma maneira de finalmente superar e esquecer de vez a guerra do volume, onde não há vencedores, e sim um único perdedor, quem realmente aprecia uma boa música!

Então a guerra do volume acabou?
Bom, ainda não pois há muita, mas muita gente nessa, mas estamos caminhando rapido, é apenas uma questão de tempo para o fim.

A guerra do volume atual é um produto do formato do CD, onde se compara uma música do CD "A" com uma música do CD "B". Uma vez que a indústria da música nunca adotou padrões de sonoridade (como os padrões estabelecidos há muito tempo pela indústria do cinema e broadcast), esse acabou sendo o padrão do CD, o quanto mais alto (!), melhor, pois nenhum artista quer que sua música tenha um som inferior (volume mais baixo) ao de outros artistas.

Mas aqui está a questão: O futuro da distribuição de música não é o CD! Claro, o CD continuará vendendo nos shows e em algumas lojas especializadas, mas o CD está ficando de fora como formato final de entrega ao consumidor. Atualmente, quantos consumidores de música ainda compram CDs? e daqui a 10 anos?

Os arquivos digitais que tocam em computador e players como os iPods e Celulares e também a reprodução por stream é que são o futuro e mais, quer seja através do iTunes, Pandora, iPods ou Spotify ou iRadio, é como a maioria das pessoas já ouvem música atualmente e vai substituir completamente o CD em um futuro que está cada vez mais próximo.

Ok, mas como isso vai acabar com a guerra do volume?
Bom, a solução veio de um ajuste automático de volume da reprodução pelo volume médio ou RMS de cada música ou album, a normalização de loudness e não pelo pico máximo como é o CD. Este processo não aplica apenas um compressor ou nivelador, utiliza algoritmos sofisticados que levam em conta o volume médio de uma canção (RMS) ou de todo do álbum e é resultado de um amplo estudo da faixa dinâmica adequada ao ouvinte, para que a audição de música principalmente através de fones não deixe sequelas auditivas ou cause fadiga auditiva ( exatamente o que acontece hoje, onde ninguém consegue ouvir 5 músicas seguidas de um mesmo álbum).

Com este tipo de sistema nos players digitais, uma canção de Rock produzida no início dos anos 80 por exemplo, será reproduzida na mesma intensidade percebida que uma canção de Rock produzida a partir de agora e músicas altamente comprimidas terão sua sonoridade inferior a uma música com mais dinámica, pois o volume (RMS) médio está sendo padronizado em - 24dbs. (O volume RMS médio do CD é de - 7 db).

No iTunes, tem o Sound Check e nos outros Players digitais, o Replay Gain. Embora a implementação atual desses processos tem espaço para melhorias, os softwares de normalização de áudio serão bem melhor do que são hoje, inclusive ficando totalmente compatível com os novos padrões de normalização de Loudness da TV e rádios digitais. Pronto, temos agora um padrão de reprodução de música como o Cinema e a Televisão pois esses algoritmos farão parte do player, e não mais uma opção.

À medida que mais e mais pessoas começam a usar os players equipados com o ajuste de normalização de “loudness”, as músicas com mais dinâmicas soarão bem melhores do que as músicas com excesso de compressão e limitação dos velhos CDs, e como soam melhores, os ouvintes se acostumarão muito rápido com a nova sonoridade e as músicas altamente processadas se tornarão apenas uma má lembrança dessa midia. As novas técnicas de produção irão atender apenas as necessidades artísticas da música, em vez de sacrificar a qualidade por causa do volume insano e assim, e com isso, chega ao fim a guerra do volume, dando inicio a uma nova e saudável competição, a das grandes mixagens de todos os estilos e gêneros.

Além dos muitos álbuns produzidos na última década (e muitos antigos remasterizados em cada gênero) que foram finalizados usando o formato do quanto mais alto melhor, haverá mais vítimas fatais desta guerra. Em primeiro lugar, estão as empresas de software que estão vendendo apenas plug-ins tipo "Ultra maximizador", "Extra limitador" e "soft mega clipper". Acredite, esses produtos em breve estarão obsoletos.

A outra vítima, será o engenheiro de masterização, cujo único e verdadeiro objetivo (e às vezes única habilidade real) é fazer músicas altas. Simplesmente não haverá mais valor nesse tipo de linha de trabalho. Ele vai ter que aprender a fazer as músicas soarem melhores, o que não é tão fácil como simplesmente fazer as coisas soarem mais altas.

Os Engenheiros de áudio e todos que gostam verdadeiramente de música vão comemorar o fim dessa guerra inútil. Em breve, os engs. de gravação e mixagem vão se concentrar apenas na qualidade do som, sem ter que expremer as mixagens além do ponto da razão e os engenheiros de masterização vão poder se concentrar em fazer com que essas mixagens soem melhor ainda no mundo real, sem ter que desnecessariamente limitar e esmagar a música apenas para fazer parte do jogo do CD.

Mas o melhor de tudo, é que agora o ouvinte final pode realmente ouvir a música da maneira como o artista e o produtor idealizaram, com muito menos artefatos de distorção causados pelo excesso de processamento que estamos acostumados a ouvir desde a década passada.

Há mais um grupo que tem a ganhar nesse grande momento: todos os jovens engenheiros que ainda não aprenderam os maus hábitos da última década. Eles vão começar as suas carreiras à frente desta nova curva de aprendizado. Que esta seja uma ferramenta para ajudar os alunos a compreender que a sonoridade não é realmente a única razão pela qual estamos todos aqui. É a música.

Haverá ainda pessoas que querem os altos CDs, e isso é até bom. Alguns estilos de música realmente soam melhores quando tem o som levado ao limite. Um bom engenheiro de masterização pode fazer um CD com bem mais volume a partir de uma grande mix com dinâmica. A boa notícia é que ele também será capaz de fazer uma master com uma grande sonoridade , com a dinâmica adequada e pronta para os novos formatos de audio, pois não haverá mais razão para destruir uma música para que ela soe apenas alta por causa de um formato (CD) de acabou de morrer.

A nova era para os grandes sons, com mixagens com dinâmicas esta chegando e nosso universo sonoro será um lugar bem melhor sem qualquer tipo de guerra.

A Figura abaixo demonstra a diferença entre a normalização por pico máximo (CD) e por RMS (Novo formato)

normalização por pico máximo (CD) e por RMS (Novo formato)
Normalização por pico máximo (CD) e por RMS (Novo formato)

Este artigo foi escrito por: Carlos Freitas no blog da Sound on Sound


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